Um espaço para discussão de Matriz de Camaragibe

PARA REFLETIR...

Somos o que fazemos, mas somos,
principalmente, o que fazemos para mudar o que somos. (Eduardo Galeano)


sábado, 7 de abril de 2012

A DROGA TORNA O ATO DE MATAR TÃO NATURAL QUANTO O DE NASCER!

Matriz registra dois homicídios em menos de 48 horas”. A manchete do dia 30 de março, nas páginas do jornal Gazeta de Alagoas, parece aguardar o momento para registrar um número ainda maior de homicídios no mesmo espaço de tempo ou num período ainda menor. Neste ritmo, é como se não restasse alternativa aos habitantes de Matriz de Camaragibe, que acompanha atordoados os crimes cometidos contra nossa população, especialmente os jovens.

A história recente de Alagoas é marcada pela institucionalização da violência. Os crimes políticos e de mando, muitos deles atribuídos a gangue fardada, como também aqueles elucidados pelas operações da Policia Federal são péssimos exemplos de crimes praticados por homens públicos que tornam a violência algo institucionalizado e, como se não bastasse, em sua maioria, os acusados acabam impunes.

Com a violência campeando nas instâncias públicas, como nos casos Dimas Holanda, Ricardo Lessa, Silvio Viana, Ceci Cunha, Coronel Cavalcante, Operação Gabiru (Cícero Cavalcante, Marcos Paulo entre outros), só pra citar alguns exemplos de vitimas e réus ligados à elite política alagoana. Se não há nenhuma garantia de segurança e punição para esses, imaginemos como se torna normal para traficantes cometer crimes de morte contra o cidadão comum.

A droga torna o ato de matar tão natural quanto o de nascer! Um dos vieses da violência que se aflora em Matriz de Camaragibe, tem origem no tráfico de drogas. O jovem pobre dependente acaba por se endividar com os traficantes, aí o caminho é sem volta, pois, no “SPC” do tráfico uma das formas dos usuários saldar seus débitos é com a própria vida e, neste quesito, os traficantes não perdoam, são implacáveis e utilizam o método como exemplo para que outros clientes não deixem de honrar suas dívidas.

Em Matriz de Camaragibe, onde a maioria absoluta da população é considerada de baixa renda, o destino dos que caem na armadilha dos traficantes é o encontro mais cedo possível com a morte, pois, a condição de pobreza leva, inevitavelmente, o usuário para a criminalidade para poder satisfazer seu desejo. Como raramente esta alternativa é bem sucedida o resultada é prisão, endividamento e, consequentemente, a morte. Aqueles que conseguem manter o vício através destes métodos, morrem pelo uso cotidiano das drogas.

Alem da violência criminosa a droga traz consigo a violência psicológica. Algumas mães relatam que tem que esconder os filhos em fazendas ou ainda, ao visitarem os que se encontram presos, estes questionam se elas estão providenciando dinheiro para pagamento das dívidas, caso contrário, morrerão ao saírem da cadeia.

As consequências fatais provocadas pelo tráfico em nosso município são confirmadas pelo delegado Valdir de Carvalho, que quando do assassinato de José Wellington dos Santos, 29 anos, também conhecido como “Fefeque”, afirma na matéria jornalística supracitada, que “Já temos os caminhos para elucidar esse crime. Foi envolvimento com o tráfico, sem dúvidas”.

Diante da inoperância dos governos estadual e municipal, evidencia-se a necessidade de reagir das famílias, das igrejas, das ONG’s e outras entidades comprometidas em combater este tipo de violência, no sentido de cobrar dos governantes a implementação de políticas públicas voltadas para solucionar tal empreitada.

Fefeque era irmão do Gerimauro, o primeiro teve um destino trágico, o segundo é conselheiro tutelar pela segunda vez, onde foi o mais votado nas duas eleições que disputou. Os dois nasceram e cresceram sob os cuidados da família e chegaram à idade adulta passando por dificuldades e, mesmo tendo trilhado caminhos tão diferentes, até então foram igualmente vitimas do desgoverno em nosso município, nas duas ultimas décadas, principalmente pela falta de políticas públicas que coloquem a juventude como protagonistas num cenário municipal que privilegie seu crescimento pessoal e profissional.

O momento que o povo camaragibano atravessa é muito delicado. A cidade às vésperas de completar 54 anos de emancipação, os administradores atuais, executivo e legislativo estão no comando do município por mais de um terço deste período, ou seja, estamos há quase duas décadas sem mudança significativa no perfil dos nossos gestores, este contexto denuncia a incompetência e conivência de prefeitos e vereadores com a realidade enfrentada pelo povo de Matriz de Camaragibe.

O quadro violento e a falta de credibilidade nas instâncias governamentais, em alguns momentos históricos inibem a mobilização popular, mas, não podemos esquecer que estamos num ano eleitoral onde, democraticamente, podemos nos mobilizar e demonstrar toda nossa insatisfação através do voto, de forma secreta e, ainda registrarmos o nosso desejo de mudança por melhor qualidade de vida e cidadania.

Um comentário:

  1. Um tema tão sério e triste para a nossa sociedade, você conseguiu dar um ar de poesia no título e ao mesmo tempo analisar a cruel realidade. Parabéns Mário!
    Eu concordo plenamente com você. O período que antecedeu essas “quase 2 décadas”, como você coloca, não podemos chamá-lo de tempo bom, porém, infelizmente, se sente saudade. É só conversar poucos minutos com alguns matrizenses que não pensem apenas em dançar e beber durante a exposição de um trio elétrico, não que eu não curta, ao contrário,gosto muito, por sinal; o problema é analisar o dia seguinte... se pudéssemos visitar as casas da maioria dos familiares daqueles/as que participaram da festa...
    Esses saudosos de outrora lhes diriam que ha mais ou menos 20 anos atrás, pensávamos que pior não pode ficar e segundo eles, se surpreenderam. Aumentou a violência, a droga, a prostituição infantojuvenil...Falta emprego, saúde, educação pública de qualidade, porque falta valorização dos trabalhadores em educação e condição de trabalho.
    É verdade Mário Galdino, faltam POLÍTICAS PÚBLICAS e isso modifica o curso de vida dos jovens menos favorecidos de Matriz de Camaragibe, que quando conseguem ingressar na escola, antes de completar o fundamental, desistem. Grande parte deles,vai para o Mato Grosso, São Paulo, em busca de trabalho para sobreviverem, outros, logo cedo estão nas mãos da polícia, entrando e saindo cada vez pior da delegacia, ou com várias passagens pelo Conselho Tutelar, que por sua vez não conseguem fazer muito por essas crianças e adolescentes, porque não tem o apoio necessário para seu efetivo funcionamento, começando pelo salário pago incorretamente aos conselheiros.
    Vocês acham que “a prefeito” (isso não é erro, é que a prefeita foi eleita, mas quem “manda” é o prefeito de São Luiz) está incomodada com isso? Eles não têm filhos convivendo com a sociedade de Matriz de Camaragibe, menos ainda de São Luiz do Quitunde.
    E os eleitos para representar o povo na Câmara de Vereadores, estão aí pra isso?
    Retornando às POLÍTICAS PÚBLICAS. A ausência dela é um grande mal à sociedade, pois enquanto que o psicólogo Wanderley Codo está defendendo que adolescentes no Ensino Médio também exerçam um ofício, que eles precisam entender como funciona o mercado de trabalho em tempos de economia aquecida como está no Brasil, porque acredita que a procura pelo trabalho cedo lhes dá experiência de vida e permite melhores tomadas de decisão”.
    Vejam a que distância nós estamos. Estamos falando que os nossos jovens estão nas drogas, sem educação, sendo mortos, muitos, antes de completar o fundamental. Como vislumbrar um futuro promissor???
    O que a família, a sociedade, está fazendo?
    Deixando que políticos como os gabirus, 9 vereadores que só apoiam o prefeito/a até na hora do desvio da verba da MERENDA ESCOLAR, do FUNDEB(Educação), sem um voto a favor do povo, continuem se reelegendo , sem sequer olhar de lado, para efetivar os programas do Governo Federal, que tem como objetivo, melhorar a qualidade da educação pública, tirando o adolescente, a criança da rua, levando-os para a educação que transforma à sociedade.
    O que vamos fazer para virar esse quadro?
    Só existe uma solução. Renovar a Câmara de Vereadores, elegendo vereadores com projetos para a sociedade. Que nunca tenham sido eleitos, de preferência. Vamos votar em candidatos que você queira assisti-lo nas sessões da câmara. Vamos lhes dar oportunidade de exercer de fato a função de vereador, representando o povo que lhe deu o voto, e não vereador que defende apenas prefeitos/as incorretos/as.

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