Após cem dias do velho-novo governo do
ex-prefeito Marquinhos e do vice Mário Melo, lamentamos constatar que essa
gestão da forma que vai, até chegar ao fim desse mandato, consolidará os últimos
vinte anos, como duas décadas perdidas, o que é deplorável para os mais de nove
mil eleitores que não votaram neste projeto político.
A nomeação dos secretários em pastas
estratégicas como educação e finanças foi criteriosamente nepotista. Deu o tom
de estarmos diante de um governo concentrador e autoritário. A questão não se refere apenas ao fato de serem pessoas da intimidade familiar, mas
sim pela falta da experiência comprovada para os postos que estão ocupando,
pois é praticamente impossível se fazer um trabalho satisfatório sem as devidas
qualificações para o cargo que se ocupa.
Aos cinquenta dias de mandato, duas
escolas inauguradas de fachada, no aniversário da cidade pela gestão anterior,
foram ocupadas por famílias sem-teto, pois estavam abandonadas. A solução
encontrada pelo executivo municipal foi transferir o problema para o governo
estadual, e em nenhum momento se ouviu um pronunciamento por parte da secretária
de educação a respeito do abandono das escolas.
O autoritarismo fica mais evidente em um
dos primeiros atos administrativo do prefeito que foi acabar o aluguel social.
Isso mostra que, se por um lado ele não prioriza as questões sociais, por outro
abandona a proteção do patrimônio público. Parece inspirar-se em Pilatos,
lavando as mãos diante da situação dos sem-teto e dos alunos que aguardam na
expectativa desde o ano passado serem matriculados nas novas escolas.
Como se não bastasse, o início das aulas
se deu sem a merenda escolar. Acreditamos ser ideal que os alunos não precisassem
merendar nas escolas, mas isso ainda está longe de acontecer. Por isso, este
tema deveria ser tratado por esse governo a pão de ló, visto que é larga a
experiência do atual prefeito com o assunto.
O desprezo pela cultura é outra questão
marcante nestes cem dias de governo. A falta de investimento nas atividades
culturais afeta diretamente a adolescentes e jovens, que infelizmente em nossa
cidade estão vulneráveis ao tráfico de drogas e outras violências contra a
juventude. O município não disponibiliza sequer um local para que grupos de
teatro e dança possam ensaiar os trabalhos desenvolvidos por excelentes
profissionais de artes cênicas.
Outro fato lamentável é chegarmos ao
quarto mês da gestão sem uma proposta concreta para os funcionários com relação
ao último salário de 2012, que a ex-prefeita não pagou. A exceção se deu
merecidamente com os aposentados, mas são fortes as reclamações entre eles,
pois no acordo aviltante que parcelou a dívida do município em dez vezes há
indícios de descumprimento.
Recentemente a imprensa noticiou que
desde a interdição do matadouro à matança de animais para consumo humano vem acontecendo a céu
aberto, em cinco pontos da cidade. Em um deles a reportagem fotografou
restos dos animais abatidos. Por causa da matéria o ministério público abriu
inquérito pelos riscos à saúde e ao meio ambiente, por aí dá pra se ter uma
ideia de como vem sendo tratado os que necessitam da saúde pública em nosso
município.
Ainda relacionado à saúde, merece
atenção à proposta para solucionar o problema da falta de água nas comunidades
Dom Bosco, FUSAL e Campanha. Depois de oito anos sem renovar a concessão dos
serviços de água e saneamento com a Companhia
de Saneamento de Alagoas - CASAL, o governo municipal aprovou
a “toque de caixa”, a criação de uma autarquia que lhe dará o direito de
prestar estes serviços nestas comunidades. Vale lembrar que existe no orçamento
da união cerca de oito milhões disponíveis para que o executivo municipal possa
viabilizar o início do projeto.
Na contra mão de todos esses fatos veio
o aumento exorbitante e autoritário de todas as taxas tributárias cobradas pelo
município. Esta atitude demonstra a falta de sintonia e diálogo com a sociedade
que só tem uma alternativa: pagar pelos aumentos nos impostos sem ver uma obra
nova ser iniciada, muito menos, como serão empregados esses recursos.
Sem dialogar com a sociedade o executivo
decreta o fim das reuniões com as categorias organizadas. O máximo que acontece
é se protocolar um ofício, quando o encontro acorre é para se adiar a pauta em
discussão por tempo indeterminado, numa demonstração de total desinteresse
pelos funcionários e suas legítimas representações, atitude que traz a
lembrança um filme já conhecido por todos.
Por tudo isso e torcendo para que o povo
não pague pelos desmandos do grupo político que vem comandando o destino do
nosso município e que contabilizará vinte anos ao final desta gestão,
lastimavelmente, encerraremos um período marcado pelo final do século XX e início
do século XXI, que entrará para história de Matriz de Camaragibe como duas
décadas perdidas.