Um espaço para discussão de Matriz de Camaragibe

PARA REFLETIR...

Somos o que fazemos, mas somos,
principalmente, o que fazemos para mudar o que somos. (Eduardo Galeano)


quinta-feira, 8 de março de 2012

MATRIZ DE CAMARAGIBE E O DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Há cerca de quatro anos, minha filha iniciou uma conversa comigo, a partir da seguinte indagação:
– Por que não existe o dia do homem?
Em momento algum passou pelo meu pensamento que Marílya quisesse me agradar, mas, se tratava de uma jovem adolescente que ainda não tinha conhecimento e compreensão dos desafios históricos enfrentados pelas mulheres, então respondi:
– As mulheres são vítimas das agressões físicas por parte dos homens.
– Mas, devia existir o dia do homem, ela insistiu.
– Continuei a explicar: As mulheres, mesmo quando desempenham as mesmas atividades profissionais que os homens, chegam a receber, em alguns casos, até metade do valor pago a uma pessoa do sexo masculino.
– Ainda assim, acho que devia existir o dia do homem, Marílya persistiu.
Aí, eu apelei e disse:
– Olha filha, você ainda é uma criança!
– Quando vocês não querem responder dizem isso, ela revidou.
Angustiado, comecei a dizer à minha filha:
– É possível que você tenha razão, pois, na história na humanidade todas as transformações e mudanças, principalmente as tecnológicas, se deram através da exploração do homem pelo homem, um nível de exploração imensurável, impossível de se medir e que nos dias de hoje isso ainda continua. Como é possível depois de todo desenvolvimento científico e tecnológico, homens e mulheres terem que trabalhar oito horas por dia? De que vale a velocidade dos computadores se as pessoas estão adoecendo com o mal de enfermidades como a LER (lesão por esforço repetitivo)? É isso que precisa mudar, passar por sérias transformações, pois, a sede pelo lucro não pode continuar justificando a exploração do homem pelo homem. Uma sugestão para caminharmos avançando no sentido de não termos que registrar tantas datas por melhoria na qualidade de vida, é a redução da jornada de trabalho para quatro horas sem reduzir os salários.
Marilya, se sentindo provocada, afirmou:
– Quatro horas é pouco tempo!
– Claro que não, filha! Primeiro, contribuiria fortemente para distribuição de renda; segundo, para o lazer das famílias. Eu, por exemplo, no primeiro horário eu estaria trabalhando e no segundo na companhia da família, companhia essa que você tanto reclama a ausência. Você, quanto tempo passa na sala de aula?
Depois de um rápido silêncio, ela respondeu:
– Umas quatro horas.
Então perguntei:
– É pouco tempo?
O silêncio foi maior e ela respondeu, com os olhos cheios de lágrimas:
– Tudo bem, painho, isso é assunto para adulto mesmo!
Não é preciso dizer que a conversa com a Marilya acabou por aí. Evidente que não acho quatro horas em sala de aula um exagero, o ideal são as escolas em tempo integral. O que precisa ser reduzido é o tempo de trabalho em até cinqüenta por cento, mas, há uma preocupação com o que estão ensinando aos nossos filhos, pois, o diálogo instigante com minha filha nasceu do modo como o tema relacionado às comemorações do dia internacional da mulher foi abordado em sala de aula.
Acredito que todo tempo do mundo é pouco para se apreender, até porque em todo lugar e a toda hora estamos aprendendo. Portanto, vale ressaltar que Marílya, aos quatorze anos, no auge de sua adolescência, não tinha o acúmulo de conhecimento, para discernir o poder que o capitalismo tem de influenciar no cotidiano das pessoas e que, as transformações e mudanças ocorridas no mundo ao longo dos tempos foram com a luta e participação das mulheres, historicamente, colocadas na posição de exploradas e discriminadas pelas sociedades.
Em Matriz não é diferente, as mudanças e transformações são inquestionáveis, mas, os desafios para as mulheres se atualizam ano após ano. Em nossa cidade, elas votam, mas não conseguem se eleger; desempenham com competência atividades profissionais, porém, estão sujeitas às diferenças salariais. É comum algumas mulheres fazerem faculdade, cuidar do bebê, exercer dupla jornada de trabalho e ainda atuarem na militância política, mas, em Matriz de Camaragibe, isso é tido como privilégio, além de serem vítimas da violência doméstica e urbana (agressões físicas, estupros, prostituição, drogas...), como se não bastasse, a Lei nº 11.770 de 09/09/2008 que amplia a licença maternidade para seis meses, por descaso dos nossos gestores, ainda não foi implementada em nosso município.
Neste contexto de exploração do homem pelo homem, onde as conseqüências recaem fortemente sobre as mulheres, protagonistas no histórico processo de transformação social, nos revela a importância de continuarmos reafirmando as lutas e reivindicações para mudar este quadro perverso e desleal, que persiste anos a fio e que é tratado por alguns setores da sociedade com certa naturalidade. Por tudo isso não podemos baixar a guarda, as manifestações e os debates na defesa dos direitos da mulher continuam cada vez mais atual em Matriz de Camaragibe no Brasil e no mundo.

ESTAMOS EM LUTA PERMANENTE POR UM BRASIL LIVRE E SOBERANO, IGUAL, SOLIDÁRIO E JUSTO, COM AUTODETERMINAÇÃO DAS MULHERES.